sexta-feira, 13 de março de 2009

Ultimate Marvel - Quadrinhos adultos e mercado

É notório que todo fã de quadrinhos em algum momento de sua vida irá parar de acompanhar seus super-heróis favoritos em suas revistas preferidas, depois de tantos anos debruçado sobre sagas e conflitos espetaculares. Uma reação natural a isso ocorreu ao final dos anos setenta, com o surgimento de uma nova geração de roteiristas (e desenhistas) que deram uma guinada mais realista à temas tão comuns ao universo quase sempre estável das HQs. Algo que pode ser encarado como uma influência tardia da geração beat, da contracultura e do movimento Punk (então a pleno vapor) sobre essa geração de jovens autores, vindos basicamente das ilhas britânicas. Autores novatos (agora consagrados) que trouxeram para o universo colorido dos super-humanos abordagens e propostas mais maduras e realistas (num certo sentido um tanto doentias). E enquanto as fantasias e batalhas maniqueístas foram sendo postas de lado, ao mesmo tempo, nunca antes conceitos fantásticos como Magia e ocultismo foram tão profundamente explorados em qualquer outro veículo da cultura popular.


Logicamente com o sucesso deste novo gênero, rapidamente se organizou no mercado um novo nicho, explorado e reconhecido como "quadrinhos para adultos". Hoje já é desnecessário enumerar para muitas pessoas a importância de obras como Watchmen, V de Vingança, Cavaleiro das Trevas, Sandman, Miracleman e tantas outras, que incitam discussões e continuam sendo utilizadas como parâmetro para quase tudo que ainda tem sido feito no nicho de entretenimento adulto.
Nos último anos, a Marvel Comics, tem investido em novas séries alternativas com a sua prata da casa. Encabeçada pelos, X-Men, Homem-Aranha, Quarteto-Fantástico, Demolidor e outros, novas séries de quadrinhos recontam as origens e as aventuras destes personagens com carta branca, livres do peso de mais cinqüenta anos de cronologia ininterrupta. Recurso que facilita a inclusão do leitor ocasional, já que para este, o Homem-Aranha é o Homem-Aranha, seus amigos são o HULK e o Capitão América... e de alguma forma estranha, todos são primos distantes do Batman e do Super-Homem. De toda forma, universos paralelos sempre causaram confusão, já que as costumeiras idas e vindas, mortes e ressurreições, sempre foram o ponto fraco destas publicações que necessitam de um mínimo de verossimilhança! Mas há que se defender estas novas séries como portadoras de algumas das obras mais interessantes feitas com estes ícones. nos últimos anos. Enquanto em suas publicações regulares, o que se vê mês a mês, é o comprometimento de uma mitologia louvável por sagas intermináveis, empoeirando o brilho de seus protagonistas devido à manobras mercadológicas que visam única e exclusivamente a ampliação do interesse de um público cada vez mais abrangente, enquanto ironicamente perde seus parceiros mais ativos, fiéis e inteligentes.
Algumas alterações, é claro, não são e nem devem ser bem vistas por todo mundo (como a nova e desnecessária origem de Venom). Mas é inegavel que existe um frescor e uma curiosidade ao acompanhar o surgimento de um aracnídeo escalador de paredes em pleno ano 00, lutando para manter uma bolsa de estudos enquanto trabalha como web designer no Clarim Diário (ao mesmo tempo em que combate o crime, lógico!). Ou então, ver uma equipe de mutantes com visual cyberpunk e roqueiro, sendo perseguidos e ameaçados não só por paus, pedras e Sentinelas mecânicos, mas por políticas de cadastro e identificação compulsória de cidadãos com gene mutante em território norte-americano. E não é só isso. Atentos à uma mudança sutil de público com o passar de gerações, autores como Mark Millar autor de Ultimate X-Men, conseguem trazer referências políticas e artísticas louváveis. Como o curioso roubo orquestrado por Magneto ao museu do Louvre (no intuito de incorporar do homo sapiens suas únicas criações dignas últimos cinco mil anos, antes de sua aniquilação total), a criação de sua famosa base satélite na Antártida que têm como inspiração o maravilhoso quadro surrealista de René Magritte, Le Chateau Dês Pyrénées.


Em outros momentos fazendo referência ao consumo de Prozacs por alguns mutantes mais instáveis, incapazes de controlar seus poderes, ou mesmo, desmascarando intrigas que e manobras pouquíssimo ortodoxas de dentro do alto escalão da Casa Branca, enquanto com um discurso nacionalista mascara da opinião pública a manutenção de uma questionável prisão para mutantes/terroristas em Guantánamo. Tudo isso obviamente, saltando das entrelinhas.
É um alívio enquanto estas referências são feitas por artistas(!) responsáveis e talentosos, que trazem tudo isso vem como um plus a mais nestas histórias que no fundo giram em torno da interminável briga entre mocinhos e bandidos. Com a diferença de que hoje, é mais perceptível o quão tênue é a linha que separa os dois lados. Algo que a maioria dos produtos culturais e de entretenimento ainda não conseguiu compreender ou teve liberdade parar perceber...

domingo, 8 de março de 2009

Banksy

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Não há muito o que dizer além.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury (1953)

Fahrenehit 451 será lembrado para sempre pela adaptação cinematográfica de François Truffaut (1966), da obra de mesmo nome escrita por Ray Bradbury em 1953.
Fahrenheit 451 narra para nós a história de Montag, um bombeiro (firefighter) numa metrópole futurista onde a leitura e a conservação de livros é terminantemente proibida, sendo aqui a função dos bombeiros não mais de apagar o fogo, mas ao invés disso, incenerar todo material subversivo impresso em brochura.
Diferente do que se poderia imaginar, acredita-se que o primeiro passo para tal conjuntura teria sido dado pelos próprios cidadãos, e não pelo Estado. Cansados da inquietação e complexidade proporcionadas pela leitura, uma onda anti-intelectual varreu as grandes cidades, ocasionando inclusive o abandono das cadeiras humanas nas universidades. Logicamente, acreditam alguns poucos cidadãos resistente, em algum momento este fato sendo percebido pelo Estado como um benefício ao controle de seus cidadãos, acaba intervindo na proibição de toda e qualquer impressão, literária ou mesmo jurídica.
É somente quando quando encontra Clarisse, uma espirituosa jovem de 16 anos, que Montag se questiona sobre o grande vazio que percebia à sua volta. Principalmente quando se vê incapaz de compreender o por que de mais ninguém observar com paixão e satisfação um bela paisagem, ou mesmo de se permitir refletir sobre questões que lhes tragam inquietação sobre o mundo ou seus próprios sentimentos. Muito provavelmente porque todos estão amansados pela onipresença brutal da publicidade e de programas de televisão desenvolvidos especialmente para aplacar a solidão e a inquietação de todos. De modo que, costumeiramente toda boa família revestia suas as três (ou quatro) paredas da sala com transmissores interativos carinhosamente apelidados de "família" por seus donos.
Impressionado pela tentativa de suicídio de sua mulher numa noite, Montag decide descobrir o por quê desta crônica insatisfação, agora, incapaz de ser preenchida com o prazer da destruição proporcionada por seu trabalho. É quando seu comportamento suspeito desperta a atenção de seus superiores e Montag se vê numa encruzilhada que o direciona para um confronto sem volta com toda a estrutura à sua volta, ou o sufocamento de suas necessidades mais profundas.


É emblemático o confronto com seu superior, o capitão Beatty. Num jogo de palavras e chavões intelectuais onde maliciosamente Beatty retruca todos os argumentos possíveis de Montag, antes mesmo que ele os manifeste. Neste curioso enfrentamento de citações e lugares comuns, Beatty argumenta a todo momento pelos dois, num diálogo que denuncia bastante da inutilidade dos impasses intelectualidade de nosso tempo, ao mesmo tempo em que trás a toda, todo o cinismo dos poderosos que guardam para si toda forma de conhecimento, por compreenderem que por trás dele está a chave para seu Poder.
A trama, como no filme, atinge seu clímax na batida à casa de Montag, onde se descobre escondidos não um ou dois livros na casa deste leitor recente, mas sim uma pequena biblioteca. Isto o obriga a destruir sua própria casa, mas não o livra de se tornar um fugitivo da polícia, dos bombeiros e de seu próprio rastro genético que é perseguido com voracidade por um enorme cão de guarda robô.
Seu único refúgio acaba sendo a fuga para as antigas estradas de ferro onde por anos, antigos professores e intelectuais abrigaram leitores fugitivos de um mundo embrutecido da qual se aproxima uma terrível e devastadora guerra.
E aí todos sabem o final...